sábado, 30 de maio de 2009

A Casa sem Paredes...

por Tahiane
Eu moro num típico bairro de classe média, daqueles relativamente tranqüilos, onde algumas pessoas ainda conversam nas calçadas e conhecem o dono da banca de revistas. De uns tempos pra cá, ao lado de uma vidraçaria, algumas pessoas sem teto se instalaram na calçada. Não é uma visão muito comum no bairro, então causa uma espécie de confusão visual, mais do que isso, me causa uma confusão mental.

Todos os dias eu passo por aquelas pessoas, umas seis crianças, sendo duas delas bebês e duas mulheres adultas. Todos descabelados, sujos, e com o mesmo olhar: o olhar de quem enfrenta todos os dias os perigos das ruas. Essas pessoas ficam sentadas na calçada e, enquanto dois bebês brincam com um pedaço de papelão, uma menina subnutrida pede esmolas a quem passa. Essas pessoas não fazem idéia se comerão no outro dia, não fazem idéia de como sair daquela situação. Não fazem idéia porque não sabem viver de outra forma.

Os bebês nasceram naquela situação, vão crescer e aprender mais e mais rápido sobre a vida nas ruas. Essas crianças não freqüentam a escola, não tomam banho todos os dias, não penteiam os cabelos, não escovam os dentes, não ouvem histórias antes de dormir e não acham que são princesas ou super-heróis. Elas sabem desde muito cedo o que é a vida e sabem que precisam lutar para sobreviver. Elas sabem o que acontece com quem vacila. As mães irão continuar fazendo filhos, muitos deles.

Essas pessoas são excluídas do sistema, vivem à margem. Essas pessoas fazem parte de uma parcela gigantesca da população mundial que não tem uma casa, que não tem condições mínimas de vida. Eu passo e vejo os bebês brincando com pedaços de papelão e me sinto culpada. Me sinto culpada porque todos os dias eu vou para a minha casa, tomo banho, como e durmo, vou à universidade, faço inúmeras coisas que para essas pessoas é algo meramente ficcional.

A minha impotência diante dessa situação me faz descrer cada vez mais deste sistema, me faz descrer cada vez mais das pessoas e de mim mesma. Eu não sei o que fazer diante desse tipo de situação. Cadê o governo? Cadê Deus? Cadê as instituições de caridade? Não sei. Eles, provavelmente, também não sabem.

3 comentários:

Dalva disse...

É revoltante.

Anônimo disse...

pois é, ligue pra uma assistente social, ou conselho tutelar. lugar de criança é na escola e se esse pessoal está sem moradia e sem se alimentar vão acabar morrendo.
hoje em dia existem trilhares de programas assistencialistas do governo (bolsa família, PETI, pró-jovem, programa do leite, sopão etc), até quem ainda mora na zona rural já se beneficia com eles e outra: hj em dia ganha-se a vida até com o lixo... não entendo como ainda tem gente nessa situação!

andreia

Marcos Salgado disse...

Que bom... ao menos vc não é uma deslumbrada desta maldita classe média brasileira que não se incomoda com nada.

Que bom que algo muito humano toca você naquilo que todos temos de igual...

Mas tente conduzir esse incômodo em algum tipo de ação concreta.

Só assim essa indignação não se transformará em anestesia... e isso é bem pior porque significa a morte na alma...

Beijo carinhoso!
marcoshumanista@uol.com.br

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