quinta-feira, 30 de abril de 2009

Caicó Arcaico

por Fernando:

Moro em Caicó há 21 anos. Foi aqui onde nasci, passei minha infância, adolescência e de quebra, também foi aqui que passei a encarar o Sol como uma ameça.

Inicialmente a idéia de passar o resto de minha vida em Caicó não me assustava; lá estava eu, sempre otimizando minha visão em relação à esta cidade, achando que todos os pontos negativos ocorriam em prol de algo maior, algo que viria, se fixaria e mudaria a maneira como as coisas são levadas aqui. Com o passar dos anos essa idéia foi se esvaindo de minha mente, murchando, até se tornar mais uma lembrança relapsa, que se converteu em frustração.

Pensem comigo: quais foram as mudanças mais visíveis que houveram em Caicó nos últimos 15 anos? Bem, meus jovens aprendizes, só consigo listar duas: a proliferação dos mototaxistas e a criação de um conjunto "musical" chamado Sakulejo*.

"Ok. Mas e o Centro Cultural e a Ilha de Santana?" Sim, são mudanças, porém, de mal uso por parte do poder público. Para que serve um teatro que em vez de promover a cultura de nosso povo através de peças, recitais, etc., só se limita a apresentar uma variedade de convenções políticas, com o propósito de discutir "quem fez mais o que" e "quem fez menos o que"?. Para que serve um espaço como a Ilha de Santana que só abre as portas para os turistas? - nada contra os mesmos -, e muitos desses nem respeitam a cidade, chegando inclusive a cagar em frente à casa das pessoas (cagaram em frente à minha).

Onde está a hospitalidade caicoense, senão no triste fato de nos deixarmos ser, lamentavelmente, subjulgados pela idéia de que tudo o que vem de fora é melhor e mais interessante; portanto, se um "playboy" de Campina Grande vem pro Carnaval e caga em frente à sua residência , você vai ter que limpar, porque você é caicoense e nossa maior qualidade é a hospitalidade. BULLSHIT!

A forma como as coisas estão sendo levadas em Caicó Cidade de Fé e Alegria já é de desagrado de boa parcela de seus habitantes, vide a famigerada** Festa de Santana, que deixou "a long time ago" de ser uma manifestação da genuína fé do povo seridoense e se tornou um meio mercantilista, um lobby político, um coreto para para inauguração de obras inacabadas, uma festa para transar mais, para ouvir a banda Os Cafetões do Forró*** cantar que Deus desenhou num sei quem, quando tava se beijando com fulana - uma puta ironia se tratando de uma festa religiosa.

Não tenho nada contra qualquer tipo de manifestação, seja ela religiosa, política, sexual, animal, vegetal ou mineral. Só me incomodo com o fato de que tudo é cinicamente maquiado neste município. Por que não admitir as contradições e aceitar que esses eventos não são mais feitos para os caicoenses? Por que a nossa Secretaria de Saúde não distribui camisinhas na Festa de Santana como de praxe faz no Carnaval? Macacos me mordam se em ambas as pessoas não transam mais que coelhos-coala jupterianos (?!).

Eu sei que essas festas movimentam a economia, as pessoas se divertem, riem umas das outras; eu acho legal a muvuca, mas não gosto quando começa a virar circo na boca de político ou de gente que se aproveita da privilegiada posição de turista para fazer cagada, literalmente.

Enfim, espero que um dia mude, eu gosto da minha cidade, tem caras engraçados aqui, a melhor carne de sol da América, os barracos do açougue, as garotas mais bonitas, e tem este que vos escreve, o cara mais bonito da região. Brincadeira, hehehehehe.

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* Essa banda ainda faz muito sucesso por aqui, recentemente seu vocalista foi eleito Rei Do Carnaval caicoense.

** Ao contrário do que parece, a palavra "famigerada" não tem uma conotação perjorativa.

*** "Os Cafetões do Forró" é uma banda fictícia, criada com o fim de ilustrar uma determinada passagem deste artigo. Se caso algum produtor musical se interessar por este nome, peço que reserve os devidos créditos à minha pessoa.

BÔJU

Disponibilizando pra galera uma pérola do rock caicoense: diretamente do muralhas bar, em um som das antigas, acredito eu que no 2° Tributo a Joey Ramone, gravado ao vivo, como deve ser, uma das bandas mais desgraceiras que Caicó já abortou, o Bôju (assim mesmo, com erro ortográfico e tudo mais). Se não me falha a memória esse evento foi em 2002, corrijam-me se estiver errado.

Tendo Rafell (meu irmão, pra quem não sabe) no vocal, Nino no baixo, Gil na guitarra e um ser gigantesco na bateria, o quarteto estava formado. Com influências que vão desde New York Against The Belzebu, passando por Agathocles, até RDP, os caras faziam um som galgado no Crust/grind core e foi umas das primeiras bandas da cidade a tocar sons agressivos assim. Produziram pérolas como “Realidade”, “Cagando pela boca” e “Fumei Minha Mãe”.

Recomendo ao pessoal mais novo que baixe imediatamente.

Caicó Subterrâneo 6°


Mais um exemplar do zine que disponibilizo pra o pessoal. Eu sei que está fora da ordem, que postei o 3° e agora to colocando o 6° pra download, mas não tenho o que fazer. Estou procurando os CDs que têm os arquivos, vou achando e upando pra o povo, depois eu faço uma postagem especial com todos os exemplares em ordem.

Neste número, como sempre, temos o de praxe: resenhas de CDs, shows, entrevistas e muito mais. Tá prontinho, só imprimir e ler onde achar melhor. Se preferir, e tiver paciência, passe para amigos, vamos manter o zine circulando.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Wolfbrigade


Wolfbrigade (ou Wolfpack) é uma lendária banda de crustcore sueca formada por ex-membros de bandas como Anti-Cimex, Obscure Infinity e Harlequin Band. O vocalista Jonsson foi obrigado a deixar a banda em 1998 devido a uma infecção na garganta. Em seu lugar foi recrutado o vocalista Jocke, que gravou este álbum que agora disponibilizo, Allday Hell. A banda também trocou de nome para evitar associações com o movimento neonazista Suéco chamado Wolfpack.

Sem dúvida o Wolfbrigade é uma das bandas que eu mais escuto ultimamente, recomendo mesmo.

Download - Wolfbrigade - Allday Hell

Rede Globo de Dominação

por Tahiane
Do blog de Paulo Henrique Amorim:

Repórter da Globo desmente versão de cárcere privado
27/04/2009

Por Max Costa*

Vitor Haor, repórter da TV Liberal - afiliada da TV Globo -, depôs ao delegado de Polícia de Interior do Estado do Pará e, em seu depoimento, negou que os profissionais do jornalismo tenham sido usados como “escudo humano” pelos Sem Terra, bem como desmentiu a versão - propagada pela Liberal, Globo e outras emissoras - de que teriam ficado em cárcere privado, durante conflito na fazenda Santa Bárbara, em Xinguara.

Está de parabéns o repórter - um trabalhador que foi obrigado a cumprir uma pauta recomendada, mas que não aceitou mais compactuar com essa farsa. Talvez tenha lhe voltado a mente o horror presenciado pela repórter Marisa Romão, que em 1996 foi testemunha ocular do Massacre de Eldorado dos Carajás e não aceitou participar da farsa montada pelos latifundiários e por Almir Gabriel, vivendo desde então sob ameaças de morte.

A consciência deve ter pesado, ou o peso de um falso testemunho deva ter influenciado. O certo é que Haor não aceitou participar até o fim de uma pauta encomendada, tal quais os milhares de crimes que são encomendados no interior do Pará. Uma pauta que mostra a pistolagem eletrônica praticada por alguns veículos de comunicação e que temos o dever de denunciar.

Desde o início, a história estava mal contada. Um novo conflito agrário no interior do Pará, em que profissionais do jornalismo teriam sido usados como escudo humano pelo MST e mantidos em cárcere privado pelo movimento, em uma propriedade rural, cujo dono dificilmente tinha seu nome revelado. Quem conhecia e acompanhava um pouco da história desse conflito sabia que isso se tratava de uma farsa. A população, por sua vez, apesar de aceitar a criminalização do MST pela mídia e criticar a ação do movimento, via que a história estava mal contada.

As perguntas principais eram: como o cinegrafista, utilizado como “escudo humano” - considero aqui a expressão em seu real sentido e significados -, teria conseguido filmar todas as imagens? Como aconteceu essa troca de tiros, se as imagens mostravam apenas os “capangas” de Daniel Dantas atirando? Como as equipes de reportagem tiveram acesso à fazenda se a via principal estava bloqueada pelo MST? Por que o nome de Daniel Dantas dificilmente era citado como dono da fazenda e por que as matérias não faziam uma associação entre o proprietário da fazenda e suas rapinagens?

Para completar, o que não explicavam e escondiam da população: as equipes de reportagem foram para a fazenda a convite dos proprietários e com alguns custos bancados - inclusive tendo sido transportados em uma aeronave de Daniel Dantas - como se fossem fazer aquelas típicas matérias recomendadas, tão comum em revistas de turismo, decoração, moda e Cia (isso sem falar na Veja e congêneres).

Além disso, por que a mídia considerava cárcere privado, o bloqueio de uma via? E por que o bloqueio dessa via não foi impedimento para a entrada dos jornalistas e agora teria passado a ser para a saída dos mesmos? Quer dizer então que, quando bloqueamos uma via em protesto, estamos colocando em cárcere privado, os milhares de transeuntes que teriam que passar pela mesma e que ficam horas nos engarrafamentos que causamos com nossos legítimos protestos?

Pois bem, as dúvidas eram muitas. Não apenas para quem tem contato com a militância social, mas para a população em geral, que embora alguns concordassem nas críticas da mídia ao MST, viam que a história estava mal contada. Agora, porém, essa história mal contada começa a ruir e a farsa começa a aparecer.

* Max Costa é jornalista de Belém e também membro da secretaria geral do PSOL

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Mais uma vez a Globo, tenta fazer o povo de otário...

Vamos bicotar essas porras e achar novos meios de informação, galera!

Porque dizer que é a favor disso e daquilo e continuar assistindo o Jornal Nacional e lendo Veja num rola não...

E tenho dito!

Ideologia e Revolta


Estou com as primeiras versões do zine em CDs perdidos espalhados por minha casa, então resolvi disponibilizar para download o Caicó Subterrâneo n°03, que estava mais fácil. Este exemplar vem em um formato diferente e foi um dos que mais saíram. Lembro-me que enviei ele para muitos estados do Brasil. Todo dia recebia de 3 à 6 cartas, isso graças à divulgação na net e em revistas nacionais, como a Rockbrigade, por exemplo.

O legal mesmo de se ler zines antigos, no caso o Caicó Subterrâneo, é que você pode ver a história da cidade se desenrolando, com fatos legais que aconteceram e mereciam sim ficarem registados.

Neste número temos um monte de textos, resenha de CDs, quadrinhos e por ai vai.

Aproveitem, baixem e distribuam por ai!

terça-feira, 28 de abril de 2009

Almoço Nu

por Tahiane

Nesse meu primeiro post eu resolvi falar de um livro que eu tô lendo, "Almoço Nu", do romancista e ensaista norte-americano William S. Burroughs.

Almoço Nu é um livro visceral, cru, pra quem tem estômago. Nessa obra Burroughs descreve os tortuosos caminhos percorridos pelos viciados em drogas "junk" (termo genérico para ópio e/ou derivados, inclusive todos os sitéticos, do demerol ao palfium), como ele mesmo define. Viciado em "junk" durante 15 anos, se meteu no submundo do crime e conheceu figuras que de tão impressionantes se confundem com ficção, e relata tudo em seu livro. Também foi um grande crítico da sociedade americana e uma figura com uma vida bastante conturbada.

Nascido em berço de ouro e formado pela universidade de Harvard, Willian S. Burroughs foi ensaísta, romancista, cientista e poeta. Nasceu no dia 2 de fevereiro de 1914, concluiu Almoço Nu em 1959, em Londres, durante um dos muitos tratamentos para se livrar do vício. Burroughs sempre sofreu de uma espécie de "negação da respeitabilidade" e viveu o ápice desse processo em 1951 quando matou sua mulher por acidente, numa brincadeira de Guilherme Tell. Almoço nu foi a sua confissão final, depois de concluir a obra, abandonou completamente as drogas e se estabeleceu em Londres definitivamente.

Eu definiria a linguagem do livro como "gore", definitivamente, para quem tem estômago.

Uns trechos do livro:

"A gente sabe como é essa rotina de alfinete de segurança e conta gotas. Ela pegou um alfinete de segurança manchado de sangue seco e oxidado, abriu um grande buraco na perna que parecia se oferecer como uma boca obscena e inflamada, esparando exprimível comunhão com o conta gotas, que ela mergulha na ferida aberta. Mas sua espantosa e galvanizada necessidade quebrou o conta gotas fundo na carne torturada da coxa."

"E agora voltemos novamente ao campo de batalha. Um jovem penetra em seu confrade, enquanto outro jovem amputa a parte mais orgulhosa do estremecido desse caralho, sendo beneficiário que o membro visitante se proteja para encher o vácuo que a natureza abomina, e ejacula na Lagoa Negra onde piranhas, impacientes, abocanham a criança não nascida; aliás — em vista de certos fatos bem estabelecidos –, é pouco provável que nasça."

"A America não é uma terra jovem: já era velha e suja e má antes dos colonizadores, antes dos índios. O mal estava lá, esperando."

"Nova Orleans é um museu morto. Andamos pela Exchage Place cheirando paregórico e imediatamente encontramos o Homem. É um lugar pequeno, e os tiras sempre sabem quem está no negócio, de modo que o cara pensa: "O que importa?" e vende a qualquer um. Fizemos estoque de heroína e subimos de volta para o México."

Eu recomendo e espero que gostem.

E LÁ VAMOS NÓS!


Partindo de um novo começo, com novas idéias e novos colaboradores, o Zine Caicó Subterrâneo volta com força total, agora na forma de um Blog, mais sem esquecer as origens gravadas no papel barato e nas idéias revolucionárias.

Esporadicamente voltaremos com alguns exemplares nos moldes antigos (uma vez zineiro, sempre zineiro), mas acho que a melhor fórmula é esta mesmo, pela internet os horizontes se abrem e as possibilidades são infinitas.

Nossos colaboradores são mais do que amigos, são irmãos de bar, compartilham das mesmas idéias e estão dispostos a mostrar seu ponto de vista sem preocuparem-se com o que os mais conservadores falarão.

Nosso blog será voltado, de início, para a cultura underground do Rio Grande do Norte, e quando falo isso quero dizer o estado todo, não somente Natal, que é o que a maioria dos blogs e sites do nosso estado visa. Queremos mostrar o território todo, com todas as suas peculiaridades, regiões e cidades, sem esquecer ninguém, ou pelo menos tentando. Para isso estamos recrutando voluntários de toda parte e pessoas dispostas a lutar pela sua região, descentralizando os olhares que estão voltados exclusivamente para a capital.

Espero realmente que o Blog vingue, que as idéias floresçam, que as mentes se abram, que o som aumente e que o nosso grito consiga chegar bem longe, sem esquecer de nossas raízes e sabendo que nem tudo é o inferno que pregam.

Sejam bem vindos!

Cuidado com a Lua!

p.s.: Imagem de um flyer usado na divulgação do primeiro evento dedicado ao zine Caicó Subterrâneo.
layout por WART :]