I
Nunca fui poço de candura
nunca fui moça prendada
nunca me joguei da janela do quinto andar
não sou tudo, nem sou nada
nem navio, nem jangada
sou apenas alto mar...
II
Ando cansada de mim
E do frio que me rói os ossos
(em noites enluaradas)
E da febre que teima em ficar
Só pra me deixar em casa
Protegida da dureza do asfalto
E da incerteza dos amores sem asas
Quero brasa, calor, fins de tarde
Quero braços seguros
Abraços demorados
(segredo de estado)
Não relembrarei mais qualquer passado.
Quero a beleza das acácias em dias de sol,
Não o frio glacial das garrafas vazias...
Não vou mais chorar pelo vinho derramado.
Ando cansada das ressacas, das carcaças
E dos rostos de pessoas vazias
Que já foram embora
E eu nem percebi
Mas levaram consigo um pedaço de mim
Meus últimos olhares ensolarados
Guardados de amigos que eu não enxergo mais
A morte é mesmo de total confiança
E, nessas horas (não se pode negar)
Bastante conveniente...
III
Acordada,
(amanhecendo no sofá)
Sozinha,
sem cigarros...
A vida vazia,
O corpo dolorido,
A mente vazia,
O rosto sem vida,
A casa vazia,
A música que nunca para.
"Foi apenas um sonho"
-Melhor assim
1 comentários:
Muito bom (sobretudo a 1ª e a 3ª partes): seu melhor poema, acredito. Você tem a dicção apropriada para aqueles que fazem poesia.
Um beijo.
Postar um comentário